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ENOTURISMO E O PATRIMÔNIO CULTURAL
BRAMBILLA, Adriana¹
Resumo
Partindo-se da compreensão que o turismo é uma atividade de grande crescimento em todo o mundo, é possível observar seus impactos nos locais onde se tem desenvolvido de forma desordenada e sem uma gestão sustentável. Neste caso podemos ver o turismo de massa, geralmente caracterizado pela ampla divulgação e pouca preocupação com infra-estrutura, acolhimento dos turistas, proteção dos meios natural e cultural e resultados para a população local. Ao contrário deste, alguns segmentos turísticos pelos seus próprios objetivos e perfis dos turistas podem gerar benefícios de forma sustentável para o núcleo receptor. Como exemplo pode-se citar o enoturismo. Uma atividade relacionada ao vinho e que está diretamente ligada ao modo de produção local, ao conhecimento da forma como vivem as pessoas que trabalham nos locais. Pode-se destacar que um dos principais objetivos do enoturista é ver e vivenciar a realidade local. Por isso, o enoturismo pode ser um exemplo do turismo de experiência, ao permitir que os turistas vivenciem a realidade local. As atividades turísticas ligadas à produção do vinho são hoje para muitos países, alternativas para o desenvolvimento regional. Costa e Dolgner (2003) explicam que “o enoturismo, associado a uma estratégia de marketing, terá como objetivo fundamental a promoção do desenvolvimento regional numa perspectiva econômica, social, cultural e ambiental” Assim, o presente estudo propôs discutir o enoturismo como uma forma inovadora da preservação do patrimônio cultural a ser desenvolvido nos destinos turísticos onde se tem a produção de vinhos. Para a consecução do objetivo deste trabalho foram feitas pesquisas bibliográficas em livros, sites, revistas científicas, com o intuito de realizar um estudo exploratório inicial, que terá continuidade em um projeto de doutorado. O conceito utilizado neste trabalho para patrimônio cultural será o de Boyd (2002, p. 213) por apresentar toda a amplitude do termo, ao considerar que “o patrimônio deve ser dividido em: natural (locais de beleza extraordinária), cultura (costumes), industrial e pessoal (aspectos que têm significado para uma pessoa ou grupos de pessoas) e também propõe que as formas de turismo recreativo praticadas dentro de um bem patrimonial, seja natural ou cultural, sejam classificadas como turismo cultural”. O enoturismo, segundo Hall e Sharples (2003), pode ser definido como a visita, às vinícolas, aos festivais de vinho, aos espetáculos relacionados, de modo a provarem os vinhos produzidos nessas regiões visitadas. Costa (2009) acrescenta que essas atividades, como a experiência de observar a fabricação dos vinhos, experimentar os diferentes tipos de vinhos produzidos numa determinada região, provar a gastronomia local e conhecer os costumes regionalizados é uma forma especial de entrar em contato direto com a cultura, com o meio e com a população de um local em visitação. Segundo Inácio e Cavaco (2010), “o enoturismo surgiu após a Segunda Guerra Mundial, com as visitas às caves e adegas, porém, somente nos anos noventa surge como fenômeno autônomo”. O turismo vem se dividindo em vários segmentos e nichos com o objetivo de atender às expectativas dos consumidores. Como resultado dessa divisão, tem-se o surgimento de vários produtos turísticos que vão se adequando não só à demanda, mas também às características dos núcleos receptores, o que vem permitindo atender de forma mais criteriosa diferentes públicos e também viabilizando a implantação de atividades turísticas em diversos locais, e não apenas nos grandes centros urbanos ou nos locais de sol e mar. Regiões antes, sob o ponto de vista do turismo de massa, sem qualquer atrativo turístico têm-se tornado, altamente atraentes para o turismo, após a definição dos segmentos de atuação turística. O enoturismo pode ser citado como um exemplo de nicho que vem possibilitando a implantação da atividade turística em regiões antes consideradas sem qualquer vocação turística. De acordo com Oliveira (2003) o enoturismo por sua especificidade encontra no meio rural, e em especial nas regiões menos desenvolvidas, o seu local de desenvolvimento, pois estes territórios conservam as características originais. O enoturismo ao despertar o interesse pelo patrimônio local contribui para a conservação dos prédios, história, artesanato, gastronomia, entre outros. Um exemplo é a Biltmore House, na Carolina do Norte, Estados Unidos, onde a maior casa de família do país, com 250 cômodos, passou a ter sua principal fonte de renda a partir do enoturismo e do turismo gastronômico. “Como conseqüência, o turismo foi um fator de revitalização assim como de afirmação cultural e econômica do local”. (www.furb.br). Segundo Oliveira (2003), um dos grandes atrativos do enoturismo é o elevado gasto médio diário dos turistas, e o fato de os enoturistas buscarem conhecer locais que conservaram as características etnográficas e a autenticidade, estimula a proteção das tradições e do meio-ambiente como forma de perpetuar a oferta turística. O enoturista tem como fator de motivação o conhecimento, o aprendizado, e por isso respeita e promove a valorização dos costumes das populações receptoras. Ao valorizar essas populações, incentiva a preservação do patrimônio histórico, viabiliza a participação ativa da comunidade na organização das atividades turísticas e a inserção destes no mercado de trabalho.
Palavras-chave: enoturismo, cultura, preservação
Referências bibliográficas
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HALL, M., SHARPLES, L The Consumption of Experiences or the Experience of
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OLIVEIRA, Simão Pedro Ravara de O Turismo Gastronômico e o Enoturismo como potenciadores do Desenvolvimento Regional. Escola Superior de Tecnologia do Mar - IP
www.jornaldeturismo.com.br. < acesso em 30/03/2010>
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Trabalho apresentado no Fórum Internacional da Associação Mundial para a Formação em Turismo e Hotelaria - AMFORHT.2010